Quando chega a hora de decidir como iluminar determinado espaço ou peça, é importante lembrar que, apesar da beleza da luz e do poder que tem para nos “mostrar” o que está à nossa volta, também tem um lado destrutivo. E está nas nossas mãos controlá-lo.
Natural ou artificial, a luz provoca danos em muitos materiais, tais como pinturas, tapeçarias, obras em papel e fotografias.
Quanto mais sensíveis as superfícies, mais rapidamente sofrem danos. E o dano provocado pela luz, para além de se agravar a cada segundo de exposição, é irreversível – as cores esvanecidas, por exemplo, não se conseguem recuperar mesmo se mantidas no escuro.
No entanto, apesar de todos os efeitos negativos que possa ter, a luz continua a ser algo que queremos manter para conseguir apreciar cores, texturas e formas. Por isso é importante chegar a um compromisso: controlando-se a luz em cada espaço é possível manter uma iluminação de qualidade, ao mesmo tempo que se prolonga a “vida útil” das peças, reduzindo a velocidade a que sofrem danos.
A luz emite diversos tipos de radiação. As que provocam mais danos são a radiação ultravioleta (UV) e a luz visível (aquela que nos permite ver os objetos). Dado que não precisamos de radiação UV para ver, uma das prioridades deve ser bloqueá-la ao máximo.
Quanto à luz visível, já desde a década de 1970 que Garry Thomson – autor da obra The Museum Environment, uma “bíblia” na área da Conservação Preventiva – dizia que, para proteger uma coleção é necessário reduzir os níveis de luz de modo a provocarem o mínimo de danos durante um longo período de tempo.
Tendo em conta que é a “dose” que determina a velocidade a que os danos ocorrem (ou seja, o tempo de exposição à luz multiplicado pelos níveis de luz), existem duas medidas de fácil implementação e que podem ter grande impacto na preservação de peças sensíveis: pode reduzir-se a intensidade da luz ou reduzir-se o tempo de iluminação das peças.
Existem muitas formas de reduzir os níveis dos diversos tipos de radiação.
Para controlar a iluminação natural podem usar-se, por exemplo, cortinas nas janelas e filtros solares nos vidros. A nível de iluminação artificial – mais fácil de controlar –, é possível desligar as luzes sempre que não são necessárias, escolher lâmpadas que emitam níveis reduzidos das radiações mais nocivas e regular a intensidade da luz, apenas para referir apenas algumas soluções.
Em contexto de museu é fundamental que os responsáveis pela conceção dos espaços e das exposições trabalhem em conjunto com os Conservadores. Desta forma consegue-se chegar a um compromisso que permite atingir um duplo objetivo: preservar as coleções enquanto os visitantes usufruem, com qualidade, dos espaços e das obras.
Sugestões de leituras adicionais:
– Garry Thomson, “The Museum Environment” (1985) – orientações sobre monitorização e controlo de luz, temperatura e humidade
– Canadian Conservation Institute (CCI), “Light Damage Calculator”: http://canada.pch.gc.ca/eng/1450464034106
8 respostas
Qual a sua opinião de se colocar acrílicos antirreflexo e protetores UV nas obras?
Eugénia, de uma forma geral parece-me uma boa estratégia para dar alguma proteção às obras.