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Hoje trago um tema que assume mais relevância durante os meses mais quentes do ano, e que pode atingir qualquer tipo de coleção que tenhamos a nosso cuidado: as pragas de insetos!
Preservar coleções, sejam elas de livros, mobiliário antigo, objetos etnográficos ou outro tipo de património, exige atenção constante — e uma das maiores ameaças, muitas vezes invisível aos nossos olhos, é a presença de alguns tipos de insetos. Em casos mais graves, podemos estar perante infestações, com o potencial de colocar em risco coleções inteiras em museus, arquivos e bibliotecas.
Ao longo do meu percurso como Conservadora de Coleções, tenho sido muitas vezes questionada sobre este tema, que é um desafio para muitas pessoas. Por isso, vou partilhar consigo alguns conselhos e dicas essenciais para identificar e controlar a presença de insetos nas suas coleções, evitando danos sérios e, nalguns casos, irreversíveis.

A importância de estar atento aos insetos junto das coleções
O caruncho (ou bicho da madeira), a térmita ou o peixinho-de-prata são apenas alguns exemplos de insetos que se alimentam de materiais como o papel, madeira e tecidos. A sua presença pode comprometer seriamente o valor e a integridade das coleções. F
elizmente, existe um método estruturado e eficaz para lidar com esta ameaça: a Gestão Integrada de Pestes (IPM – Integrated Pest Management).
Esta metodologia baseia-se em quatro pilares fundamentais:
- Prevenção
- Monitorização
- Identificação
- Controlo
1. Prevenção: A primeira linha de defesa
Como diz o ditado, “Mais vale prevenir do que remediar”! Evitar as pragas é muito mais eficaz — e económico — do que tentar eliminá-las depois de uma infestação.
Por isso, recomendo:
1º – Garantir uma boa ventilação dos espaços e evitar microclimas.
2º – Limpar regularmente os espaços com aspirador e panos secos, evitando o uso de água (a água pode criar condições favoráveis para o aparecimento de pragas).
3º – Isolar e inspecionar todos os novos objetos antes de os integrar na coleção (implementando um período de “quarentena” de cerca de dois meses, num espaço separado e em sacos fechados).
4º – Evitar ter carpetes, plantas, comida, bebida ou animais perto das coleções.
2 e 3. Monitorização e Identificação: Detetar o problema cedo
Alguns insetos são inofensivos, como aranhas ou moscas. Mas a presença de peixinho-de-prata, caruncho ou térmita deve ser motivo de alarme.
A monitorização da presença de insetos rastejantes como estes é simples e económica:
1º- Colocar armadilhas adesivas junto a paredes e estantes.
2º– Verificar as armadilhas regularmente (uma vez por mês, por exemplo) e registar o tipo e número de insetos encontrados.
3º– Inspecionar visualmente as coleções para detetar de sinais da presença de insetos, como ovos ou larvas.

Recomendo estas armadilhas, por serem uma boa escolha para quem quer começar a utilizar armadilhas para insetos junto das suas coleções.
4. Controlo: Atuar com segurança
Quando se deteta uma infestação, o primeiro passo é isolar os objetos afetados para evitar a propagação.
De seguida, deve-se recorrer a métodos seguros de desinfestação.
Um dos métodos de desinfestação mais recomendados é a anoxia, um método não tóxico que elimina os insetos através da substituição do oxigénio por gases inertes.
Outros métodos, tais como a congelação ou aplicação de calor, podem ser igualmente eficazes, mas exigem conhecimento técnico especializado — e por isso não devem ser realizados com eletrodomésticos que se tenha em casa.
Em Portugal, estes métodos ainda não estão muito disseminados, e por isso o mais seguro é contactar empresas especializadas, como a Rentokil ou a Anticimex, que oferecem soluções adequadas e seguras para as nossas coleções.
É muito importante evitar o uso de produtos químicos porque, para além de poderem danificar os objetos, representam também riscos para a nossa saúde.
Uma tarefa contínua…
Proteger coleções contra pragas é uma tarefa contínua. Aplicando consistentemente os quatro passos da Gestão Integrada de Pestes — prevenção, monitorização, identificação e controlo adequado — estará a proteger o seu património de forma eficaz e sustentável.

Se tem ao seu cuidado uma coleção ou conhece alguém que trabalhe nesta área, então estas estratégias podem ser preciosas! Partilhe este artigo com colegas ou amigos que enfrentem desafios semelhantes.
E por aí, que dúvidas ou desafios já sentiu na prevenção ou controlo de pragas nas suas coleções?
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E se achar que posso ajudar de alguma forma, diga-me também. Estou disponível para esclarecer todas as suas dúvidas.

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